domingo, 17 de agosto de 2014
Poetisa natalense
PALMIRA
WANDERLEY
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
Habitou em Natal do nascimento à morte - 06/08/1894 a 19/11/1978, uma moça
loira, olhos verdes, de alegria contagiante, descontraída e inteligente. Pertenceu a
um ramo familiar de senhoril nobreza cultural.
Em plena adolescência uma fada cingiu-lhe a fronte rosada com uma grinalda de flores - a coroa
da Poesia, por ela ostentada a vida inteira.
O seu verso mereceu elogio entusiasta do
"Príncipe dos Poetas Brasileiros" - Olavo Bilac.
E Tristão de Atayde
reconheceu nela:
"O maior poeta feminino do Nordeste".
O seu livro, “Roseira Brava”,
editado no Recife, em 1929, recebeu o "Prêmio de Poesia" da Academia
Brasileira de Letras.
Foi a sua consagração literária.
Projetou-se, também, na imprensa, sendo a primeira jornalista do Estado, colaborando em jornais de Natal - "A República"; 'Tribuna do Norte"; "Diário de Natal (da Diocese); "Diário de Natal"; Rio de
Janeiro: "A Imprensa", "A República"; "A União";
em São Paulo, nas Revistas "Feminina" e "Moderna"; na Bahia:
Revista "Paladina do Lar"e em Fortaleza na
Revista "Estrela".
Das poetisas da terra que lhe deu berço é a sua Prosa a mais abundante
e eloquente, na expressão, de nossa literatura. O seu escrito datado de
1925, intitulado, "De Joelhos", sobre ser um
verdadeiro poema em prosa.
A sua poética
foi outrossim elogiada por Câmara Cascudo, Olegário Mariano e Múcio Leão.
Dedicou-se, também a outro cenário cultural - o Teatro. Para
ele produziu peças e operetas.
Foi, Palmyra Wanderley, na sua época, considerada uma espécie de "poetisa oficial" de Natal. (Duarte e
Cunha - 2001).
Autora de peças teatrais, conferências,
era declamadora em festas fechadas, aniversários e
em solenidades públicas.
A sua
primeira obra, intitulou-a – “Esmeraldas”.
Inéditos
deixou: “Neblina na Vidraça”
(versos); “Minha Canção
Auriverde” (versos); “Panorama
Histórico”
(prosa e verso); “O Sonho da Menina sem
Sonho” (teatro); “Vidro de muitas
Cores” (crônicas); “Rosa Mística”
(versos); “Contos e Lendas de Tia Nenen”;
Discursos e Conferências”;
“Madame Laiseus”; “A Dama do Século”
(conferência);
“Sutilezas Femininas”. (Duarte,
Cunha -2001).
Palmyra Wanderley foi Sócia fundadora da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras,
por convite pessoal de Luís da Câmara Cascudo, o seu idealizador.
Os dotes intelectuais, não eram somente eles, as qualidades eleitas da sua personalidade altiva. A alma sensível ao encanto da Arte, fora atraída,
desde a infância, pela chama
da Fé;
iluminadora chama da sua inspiração poética. E católica fervorosa, que foi, uma vida inteira, espargia afetos, cordialidade e entusiasmo,
sendo afável e dotada de altruísmo, dando conselhos de esperança, a bela virtude teologal.
Teve ela uma existência cheia de simplicidade, ornamento maior do seu
espírito
cristão.
O seu encanto, como pessoa humana, tornou-a
querida e conceituada em nossa sociedade.
Tendo sido considerada das mais cultas do Brasil, em seu tempo, a
poetisa, Palmyra Wanderley França, afirmou-se como uma das proeminentes mulheres
intelectuais do Rio Grande do Norte.
Em 1944, com o falecimento, aos 39 anos de idade, do nosso santo e
sábio, devotou-lhe o soneto abaixo:
“NO CAMPO SANTO
À
memória
de Padre Monte
Aqui
repousa o sacerdote angélico
De consciência pura e
alma serena...
Aqui sossega
o sábio no evangélico,
Tão grande em
sepultura tão
pequena
Aqui
descansa o padre humilde, o célico,
O manso e
bom. Pastor de doce avena...
Aflorava em
seu riso triste e mélico,
A indiferença à sedução terrena.
Da vida
amarga espinhos dissipava,
Jardineiro
das almas procurava
De perfumes
celestes embebê-las...
Mãe desolada,
enxuga o pranto aflito
Que o teu
filho, nas dobras do Infinito,
Foi celebrar
a missa das estrelas.”
sábado, 16 de agosto de 2014
NÃO CHORES
POR MIM, ARGENTINA
Por: GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN
As televisões transmitem para o mundo
a crise financeira da Argentina. A roda-viva me devolveu alguns fios da memória,
quando, para mim, Buenos Aires era a imagem de um mundo romântico que cantava
as dores esquisitas pela morte de Carlos Gardel. Visitei Buenos Aires depois, um
pouco de suas ruas, o burburinho de sua gente elegante, a grandiosidade da Avenida
9 de julho e o Obelisco, centro e símbolo da capital portenha. Conheci livrarias,
o cemitério que agasalha os restos mortais de Evita, o recanto boêmio “Camenito”,
suas praças e o Bairro do Boca. Foi assim, como sói ocorrer com outros visitantes.
A Argentina para mim deixou de ser tão somente o ritmo malevolente de um tango,
ou o som plangente de um bandoneon executado por Piazzola, sem menoscabo de outras
facetas de sua musicalidade. A par do enlevo da visita fui tomado por um sentimento
de tristeza. Surpreendi-me ao ver pessoas postadas indiferentes nas calçadas. Eram
os descamisados, inúmeros, de cabelos
loiros e olhos azuis, dirigindo uma súplica, em troca de um agradecimento
antecipado, rabiscado num papel: Estoy a
pedir su ayuda. Gracias.
A História recente dos países da
América Latina é bastante significativa face a trajetória no que tinha de assemelhado
com a Argentina. A pujança de sua economia se retratava na robustez de sua
escolaridade, cultura e de suas transações mercantis. O potencial econômico do
Mar del Plata e as exportações de carne e trigo a fizeram a sexta economia
mundial, passando ao largo de crises periódicas do capitalismo industrial.
Tempo em que, na cidade de Buenos Aires, o número de livrarias e de escolas em
funcionamento era superior às existentes em todo o território do Brasil. Ao se
iniciar o século passado, Buenos Aires já tinha em funcionamento o seu Metrô de
passageiros, serviço só compatível em cidades como Moscou, Londres, Paris e
Nova York.
O declínio intermitente da Argentina
perpassa obrigatoriamente pelo Peronismo que dominou inconteste o país durante
a primeira metade do século XX. Como lá, o populismo político se alastrou nos
demais países da América do Sul, gerando líderes carismáticos e um modelo
conservador, em tudo assemelhados, tais as diferenças regionais. Peculiar no
Brasil, o trabalhismo de Getúlio Vargas caminhou para substituir a fórmula até
então hegemônica da economia ruralista, cooptando lideranças regionais, impondo
uma economia urbana pré-industrial e revisando a economia artesanal. A partir
dos anos de 1950, consagrou-se um parque industrial na Região Sudeste, mais
especificamente em São Paulo, que se tornou polo da indústria metalúrgico/automotiva
e se impôs com reflexo nas demais regiões do Brasil. O setor agropecuário permaneceu
ativo, embora fragilizado diante das crises, submetido às vacilações do mercado
e ao amparo crescente de recursos governamentais.
O ciclo populista na Argentina foi
mais perverso, exatamente por não ter incorporado com rigor novas vias de
desenvolvimento, a par do seu potencial, ao final da Segunda Grande Guerra. Se
a economia mundial se reciclara, a nova política de exportação de comodities exigia novos influxos
econômicos, que não foram viabilizados convenientemente. De herança mais consistente
ao populismo, a incapacidade política do modelo consagrou, fortalecendo o
vínculo mais fácil de convencer a massa trabalhista, que, em sua maioria, mesmo
sendo politizada, se partidarizou, favorecida com a concessão dos pleitos
salariais, exatamente quando o aguçamento da crise vez por outra a atingia. A
abundante riqueza oriunda da fase áurea da exportação serviu para abastecer por
muito tempo a máquina estatal, a corrução e a engrenagem dos burocratas, o
partido peronista e o sistema policial/militar repressivo, apto contra as
turbas assalariadas, desenganadas nas horas de crise.
Em a História não se repetir, salvo
como tragédia, o retorno político de Peron ao governo, sem novidade, na segunda
metade do século passado, aprofundou ainda mais a crise que corroía a
Argentina. Repetiu-se a tragédia anunciada, quando da morte de Evita, em 1950.
O Peronismo sozinho não tinha mais forças para governar e, afinal, com a morte
do líder, restou associar-se a milongueiros
carreiristas. Em consequência da morte de Peron, uma nova Evita ascendeu ao
poder, sem forças políticas de apoio, sem envergadura e a economia encolhendo em
pedaços. O populismo na Argentina deu seus últimos suspiros. A ditadura dos
generais resultou o final do ciclo da decadência. Eis a fase pós-peronista, de truculência fascista
contra os jovens, de inoperância governamental, de revolta popular e do
desespero pela retomada das Malvinas.
Os demais países da América do Sul tiveram com
o final da experiência populista a implementação de ditaduras militares. Restaurado
o regime democrático, raríssimas foram as economias regionais que tinham fôlego
para se restabelecer por si. A Argentina não tinha líderes nem projetos de
futuro. As Mães de Maio invadiram as praças à procura de seus filhos
perdidos e por explicações do passado que não esquecem. A inflação instigou os
panelaços. Nascia o simulacro de um novo peronismo.
O lamento/canção Don’t cry for me Argentina, na voz de Madonna, no início da trilha sonora do
filme de igual nome, não nos conforta: Será
difícil de compreender?.. É fidelíssimo à realidade da vida. Confirma-se a
conjunção maldosa de política e família, carisma e populismo de Estado, militarismo,
corrução e inflação, em passos de jabuti, e na direção da derrocada do país,
até o quadro grave a que chegou.
Desde Adolfo Rodrigues Saa (2001),
até o contorcionismo do atual ministro da Economia; de Carlos Menen e outros, aos
governos da família Kistchner, diante de credores impolutos, pouco nada resta a
contratar, tantas foram os débitos, até a submissão às garras insensíveis dos
fundos abutres. Não há Peron, não há outra
Evita, a mãe dos pobres, nem Isabelita, para aplacar os rigores do frio que
atravessam os Andes e pairam avassaladores sobre sua gente. A Argentina irá se
redimir, mais cedo ou mais tarde.
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