A POESIA MEDIEVAL NO BRASIL.
Onestaldo de Pennafort
ROMANCE DAS TRÊS IRMÃS
OU MIRAMAR
C’erano tre zitellee
tutti tre d’amore.
Nós éramos três irmãs
num castelo ao pé do
mar.
A primeira era
Marfida,
a segunda Guiomar.
A terceira por
desgraça
Miramar se foi chamar.
Mira, mira, que remira,
Passa os dias a mirar
As ondas que vão e vem
Nas àguas verdes do mar.
Mira, mira, que remira,
Passa os dias a mirar
As ondas que vão e vem
Nas àguas verdes do mar.
Nós éramos três irmãs,
todas as três por
casar..
A primeira tinha um
colo
Para um punhal se
cravar.
A segunda tinha uns
braços,
Oh! quem m’os dera a
abraçar!
A mais formosa de
todas
Tinha os olhos cor do
mar.
Logo por desgraça dela
Miramar se foi chamar.
Nós éramos três irmãs
Num castelo ao pé do
mar,
Cavaleiros que
passavam
No seu lindo galopar.
Cavaleiros que
passavam,
Marfida que ia a
espiar.
Tanto espiou, que
algum dia
Um deles que ia a
apear.
Tão bem que a mão lh’a
pedia,
que ela a não soube
negar.
Montou logo na garupa,
puseram-se a galopar.
Passava mais de ano e
dia
que tinham ido a
casar,
Ao derredor do castelo
se escuta um belo
cantar.
O trovador que
trovava,
Guiomar que ia a
escutar.
A voz que entrava no
ouvido,
A saia de lhe apertar.
Tão cheinha que ela estava
Das trovas de aquel trovar!
Tão cheinha que ela estava
Das trovas de aquel trovar!
Chamam dois xastres, a
saia
não n’a podem
consertar.
Só um frade é que o
podia,
Que o remédio era
casar.
Chamam um frade, ali
mesmo
Muito bem que os vai
juntar.
Miramar, a mal fadada,
estava mirando o mar.
Passam dias, passam
noites,
passam anos de contar,
Miramar, a malfadada,
estava mirando o mar!
Passam dias, passam noites,
Passam anos de contar,
Miramar, a malfadada,
Estava mirando o mar!
Passam dias, passam noites,
Passam anos de contar,
Miramar, a malfadada,
Estava mirando o mar!
Arde o castelo com o
fogo
Que o demo foi a
atear.
Miramar, a malfadada,
estava mirando o mar!
Transcrito de página atribuída à publicação na revista Cigarra, sem data.
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