ONESTALDO DE PENNAFORT
(1902-1987)
(1902-1987)
Onestaldo
de Pennafort Caldas nasceu no Rio de Janeiro, RJ, onde cursou
Direito, no Rio por volta de 1918, que não chegou a concluir.
Iniciou-se na poesia com o livro Escombros Floridos, publicado em 1921. Nos anos de 1920 a 1950 Foi um colaborador freqüente das revistas Fon-Fon, Careta, Autores e Livros, Para Todos e O Malho. Traduziu diversas obras, entre elas Festas Galantes, de Paul Verlaine (1934) e Romeu e Julieta,
de Shakespeare. Homenageado, em 1955, com o prêmio Machado de Assis,
concedido pela Academia Brasileira de Letras para o conjunto de sua
obra.
Obra poética, de tendência simbolista, os livros Perfume e Outros Poemas (1924), Interior e Outros Poemas (1927), Espelho D’água. Jogos da Noite (1931), Poesias (1957) e Poesia (1987).
Para Andrade Muricy, "A obra de Onestaldo de Pennafort é de apurado
requinte e característica do período já limítrofe com a arrancada
modernista, demarcada pela busca de acabamento, possibilitado pelo
adestramento da técnica do verso, que apresenta conotações evidentes com
as de Eduardo Guimaraens, Cecília Meireles e ainda os gaúchos Reynaldo
Moura, Athos Damasceno Ferreira e Teodemiro Tostes, e foi
representativo do final do movimento simbolista, que, aliás, não vedou o
caminho para as aventuras de vanguarda.". (Extraído de www.astormentas.com, com modificações).
Capa de livro publicado no
ano do falecimento do Autor.
Hora Azul
Hora azul. No parque, o ocaso
tem sugestões de pintura.
Crescem as sombras e a alvura
dos cisnes, no tanque raso.
O velho jardim de luxo
parece um vaso de aromas.
Harmonias policromas
sobem dágua do repuxo.
A tarde cai dos espaços
como uma flor, a um arranco
do vento, cai aos pedaços.
E a noite vem... No jardim,
o luar, como um pavão branco,
abre a cauda de marfim.
Noturno
Lá vem ele a guiar o seu rebanho.
Cada pedra que encontra em seu caminho,
ele transforma em dócil cordeirinho.
E lá vai a guiar o seu rebanho...
Quando ele passa erguendo o alto cajado,
pastor sem gado chamam-lhe os pastores.
Mas crianças dizem que são flores
que ele vai a guiar com o seu cajado...
Canção
Quando murmuro teu nome,
a minha voz se consome
em ternura e adoração.
Quando teus olhos me olham,
parece eu se desfolham
as rosas de algum jardim>
Ò meu amor, se é preciso
eu direi que o teu sorriso
é doce como um olhar.
Mas é preciso que eu diga,
ó minha suave amiga,
isso que sinto e tu vês,
mas é preciso que eu diga?
Predileção
Amo os gestos estáticos, plasmados
numa atitude lenta de abandono;
certos olhares bêbedos de sono
e a poesia dos muros desbotados...
Amo as nuvens longínquas... o reflexo
na água dos foscos lampiões... as pontes...
a sufocação ríspida das fontes
e as palavras poéticas sem nexo.
Mas, sobretudo, eu amo esses instantes
em que, côo dois pesos foragidos,
os meus olhos se embrenham, distraídos,
na natureza — como dois amantes...
Amo os gestos estáticos, plasmados
numa atitude lenta de abandono;
certos olhares bêbedos de sono
e a poesia dos muros desbotados...
Amo as nuvens longínquas... o reflexo
na água dos foscos lampiões... as pontes...
a sufocação ríspida das fontes
e as palavras poéticas sem nexo.
Mas, sobretudo, eu amo esses instantes
em que, côo dois pesos foragidos,
os meus olhos se embrenham, distraídos,
na natureza — como dois amantes...
Cavaleiro andante
Se vais em busca da Fortuna, pára:
nem dês um passo de onde estás. . . Mais certo
é que ela venha ter ao teu deserto,
que vás achá-la em sua verde seara.
Se em busca vais do Amor, volta e repara
como é enganoso aquele céu aberto:
mais longe está, quando parece perto,
e faz a noite da manhã mais clara.
Deixa a Fortuna, que te está distante,
e deixa o Amor, que teu olhar persegue
como perdido pássaro sem ninho.
… Porém, ó negro cavaleiro andante,
se vais em busca da Tristeza, segue,
que hás de encontrá-la pelo teu caminho!
Página publicada em dezembro de 2008
Ele era conhecido como Pena Forte e um dos maiores poetas brasileiros dos anos 40/50/60. Maria Natividade Cortez Gomes deixou um caderno grande, de capa grossa, com muitos poemas de Penna Fort transcritos manuscritamente.
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