Tupi or not Tupi? Os 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922
Em
pleno verão de 1922, os dias 13, 15 e 17 de fevereiro foram os mais
efervescentes a ponto de alçar a cultura brasileira a uma nova estatura,
cuja proposta de torná-la original, aproveitando-se dos elementos
essenciais à nossa identidade cultural
Tupi or not Tupi?
Marcar um país em busca de uma identidade cultural não parecia se
tratar de tarefa fácil; mesmo se, esse país fosse o Brasil, pouco menos
de cem anos após tornar-se independente da metrópole portuguesa e outros
poucos mais de trinta de uma nação republicana. Coube aos filhos dos
representantes da aristocracia paulistana o repúdio à influência
francófona em pleno verão de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Oswald
de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Paulo
Prado, Patrícia Galvão (Pagu), Menotti Del Picchia e Plínio Salgado
organizaram a Semana de Arte Moderna de 1922 sob a responsabilidade de
introduzir os valores culturais brasileiros nos moldes do Modernismo. A
antropofagia arrastou todos os elementos que podiam estar ao alcance
daqueles que ambicionaram mostrar o caráter do povo tupiniquim.
A
poesia concreta adornada de seus elementos imagéticos e polifônicos
vinham a reboque de um conceito literário pré-estabelecido nos anais
burgueses de Paris dos séculos XVIII e XIX. Em busca de um tempo
perdido, Oswald voltou de uma temporada europeia aonde foi tomado por
ideias fervilhantes; deu voz a uma certa sociedade pau-brasil. Ainda no
campo literário, Mário de Andrade, publicou, em 1928, sua obra de maior
repercussão – Macunaíma - narrativa estrutura sobre um retrato
expressionista sobre o anti-herói brasileiro.
Com a
força do clima tropical, da mistura de povos e da estrutura econômica
predominantemente rural, as artes visuais apoiaram-se nos seus pilares
antropofágicos de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. A expansão
cafeeira no interior paulista e os resquícios do regime escravagista
para os trabalhadores das plantações foram panos de fundo para as
pinturas mais emblemáticas do movimento, como A Boba e Tropical, de
Anita e Abaporu, de Tarsila.
Heitor
Villa-Lobos, nosso maestro mais prestigiado, encerrou a Semana com a
apresentação de sua obra Bachianas Brasileiras nº 5, misturando a
erudição com a liberdade do cancioneiro popular brasileiro. Foi mal
entendido pelo público, que, ora o vaiou, ora o aplaudiu ao final da
apresentação.
São
Paulo já era economicamente a capital mais próspera e independente do
país naquela época, suficiente para organizar um marco cultural. Paulo
Prado, grande cafeicultor e intelectual influente, patrocinou o
movimento sabido da ambigüidade manifesta – a convicção de uma expressão
originalmente brasileira, mas, sobretudo, a dúvida da extensão de tal
projeto, o qual, admitamos, esboçou ser pretensioso para o período.
Diante
das contradições deixadas pelas apresentações dos dias 13, 15 e 17 de
fevereiro de 1922, fica a precisão do processo de formação criativa de
um país que incorpora tão bem a convivência e fusão de povos e,
principalmente, de manifestações artísticas. Melhor dizendo – o jeitinho
brasileiro de fazer arte e cultura.
Posted 24th February by SOB OBSERVAÇÃO
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