A UTOPIA E A MENTIRA
Tomislav R. Femenick
Todos os esforços empregados pelos historiadores, jornalistas e outros
pesquisadores devem ter como objeto a busca da verdade. Aqui nos deparamos com
um problema: o que é verdade? Para se estudar a verdade, tem-se que enveredar
pelos caminhos de outra disciplina; tem-se que se debruçar sobre os “conceitos
filosóficos de verdade”, que são múltiplos e às vezes contradissestes e
contestadores entre si. O problema torna-se mais complicado quando se sabe que
cada um desses conceitos exige um tratamento diferente da verdade.
Essa
adjetivação da verdade cria um procedimento coadjuvante para a sua investigação.
Se os conceitos sobre a verdade têm origem em definições filosóficas, tem-se
que concluir que a verdade como coisa única, eterna e irrefutável não existe.
Essa concepção sincrética ou eterna (philosophia perenis) da filosofia morreu
por volta do século XVII, quando da ruptura entre a filosofia e a ciência.
Segundo o
filósofo norte-americano Donald Davidson a “verdade é uma locução que só
depende de duas coisas: do que as palavras significam e de como o mundo está
ordenado. Não há nada mais relativo do que isso”. Sendo assim, a verdade não
poderia ser encontrada e muito menos enquadrada em uma fórmula. A verdade
verdadeira, a “verdade real” seria, pois, uma “noção primitiva”. Em
determinadas circunstâncias, poderiam perfeitamente ser aceitas noções múltiplas
de verdade.
Outro
conceito filosófico sobre o tema é aquele que busca fazer a “adequação da coisa
e da ideia” (adequatio res et intellectu),
encontrado no pensamento de Aristóteles e de São Tomás de Aquino. Embora seja
das mais antigas, essa visão da verdade é uma das mais falhas e sua falha maior
está em apresentar uma adequação perfeita entre o fato e o elemento de sua
comprovação. É a “certeza” não cientifica da verdade, que acaba por induzir
certos estudiosos a fazer a adequação dos acontecimentos à “sua certeza da
verdade”, muitas vezes nascidas de perspectivas nada científicas, tais como a
fé e a ideologia. Ai, então, cria-se mitos e não relatos verdadeiros.
E por que
todo esse falar sobre a verdade; perdão, sobre as verdades? É que certo
cronista publicou, em uma dessas revistas mantidas por verbas públicas, um
alentado estudo pseudocientífico falando sobre “os novos tempos da vigorosa
economia brasileira, sob a bandeira do pensamento e do governo petista”. Seria
risível se não fosse tolo, irresponsavelmente, propagandístico. Suas teses são
como as folhas de outono: voam, mas não nem se sustentam no ar. Vejamos alguns
pontos levantados pelo “eminente” sábio petista. A primeira delas é pretensiosa
demais da conta, como dizem meus alunos: a inflação somente teria ido embora (e
foi?) por causa da atuação firme de três pilares da política econômica dos
governos Lula e Dilma, Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Guido Mantega.
Outra: a primeira política social do governo brasileiro foi a campanha “Fome Zero”,
implantada logo no início da gestão lulista. Mais uma: foi nos governos do
operário-presidente e da gerentona que a Polícia Federal começou a prender
bandidos de colarinho branco e não só os “três pés”; pobre, preto e puta. Grande
cronista... Grande petista... Grande bajulador...
Vejamos o quando tem de verdade nessa versão
de bajulice explicita. Não há como não concordar que a política econômica dos
governos de Luiz Inácio Lula da Silva foi a coisa mais certa dos seus dois
mandatos. Todavia, ela foi uma “herança bendita” do governo de Fernando
Henrique Cardoso, simplesmente continuada por Palocci e Henrique Meirelles;
depois Mantega bagunçou tudo. Aliás, Meirelles quando foi convidado para
assumir o Banco Central era deputado eleito pelo PSDB, partido do governo
anterior. Ora, todo mundo sabe que o tiro mortal contra a inflação teve arma e
autor identificados; o plano real (ao qual o PT foi contra) e FHC, na época
ministro de Itamar Franco. Como também todo mundo sabe, a política econômica do
primeiro mandato de Dilma Rousseff foi um desastre completo.
Quanto a
“Fome Zero”, as torcidas do Flamengo e do Corinthians sabem que ela é irmã
gêmea da Viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido. Sem sombra de dúvida, a
grande atuação social do governo Lula foi a Bolsa Família; que teve origem na
Bolsa Escola, no Vale Gás e outras do governo anterior. Mas, justiça se faça,
sua amplitude a transformou numa das melhores, não fossem as maracutaias nela
embutidas.
Dizer que a Polícia Federal somente começou a
trabalhar agora é o mesmo que dizer que seus delegados e agentes nunca
trabalharam; é uma inverdade e até uma ofensa. Eles sempre trabalharam,
acontece que só agora há tantos desmandos com o dinheiro público: petrolão,
mansalão, dólares na cueca, sanguessugas e muito mais. E ainda estão por vir o
eletrolão, o os financiamentos acertados do BNDES “aos amigos do rei e da
rainha” e, por certo, muitos outros mais. Numa coisa Lula tem razão, a utopia
do PT acabou; principalmente quando a Policia Federal, a Receita Federal e o
juiz Sérgio Moro bateram a sua porta.
O espaço
é curto para falar no desemprego, nos juros altos, no aumento dos impostos, na
conta de luz, nas pedaladas fiscais, no preço do dólar et cetera e et cetera e
tal; tudo com digital petista.
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