domingo, 12 de maio de 2013

Woden Madruga e uma carta do poeta José Bezerra Gomes


Andando pelas letras

Tribuna do Norte

Jornal de WM

Publicação: 12/05/13

Maio começou num bom embalo. Quinta houve o lançamento do livro de Nei Leandro de Castro, Pássaro sem sono, e na noite seguinte foi a vez de Viva Luiz Damasceno!. Segunda, amanhã, começa mais uma edição do projeto “Ação Leitura”, bolado pela Editora Jovens Escribas, a mesma que editou Pássaro sem sono. O mote do projeto é “Ler pode ser muito divertido”. E é. O “Ação Leitura” está trazendo de fora um pessoal da melhor qualidade. No time, por exemplo, o Daniel Galera, cujo romance Barba ensopada de sangue, li com garra e muito prazer. Nascido em São Paulo, mas vivido no Rio Grande do Sul, o Daniel Galera é um dos bons nomes do novo romance brasileiro. Tem pouco mais de 30 anos de idade.

A abertura do Ação Leitura será amanhã, coisa das 19 horas, no auditório da UnP, da Floriano Peixoto, com um bate-papo entre Clotilde Tavares e Pablo Capistrano. Na mesma ocasião o pessoal prestará uma homenagem a Nei Leandro de Castro que receberá o Prêmio Parágrafo, patrocinado pelo Sesc e os Jovens Escribas. Nos dias seguintes, outros papos, oficinas, palestras em escolas, divulgando o lema “Mais que aprender, leitura é lazer”. Na programação incluem-se música e teatro

As oficinas literárias serão ministradas por Daniel Galera, a poeta Ana Elisa Ribeiro, de Minas, o escritor mineiro Sérgio Fantini, o escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder,  a escritora e atriz Clotilde Tavares. No dia 17, terça-feira, Daniel Galera estará na Livraria Nobel, da Salgado Filho, para autografar o seu romance Barba ensopada de sangue, edição da Companhia de Letras. Semana gorda num maio alvissareiro.

Voltemos ao lançamento do livro de Nei Leandro, entre os espaços fidalgos do Solar Bela Vista, de onde se vê as luzes sobre o Potengi amado. Andei por lá, voltando a subir a rua São Tomé onde morei pelo final dos anos 50, casa na esquina com a rua Auta de Souza. Bons papos no Solar, enquanto o autor autografava. Quando eu cheguei, Alex Nascimento já tinha ido embora. Numa mesa estavam Maria Emília Wanderley, Leda Guimarães, Sandra de Nei, Margarida e Robério Seabra de Moura, Diógenes da Cunha Lima, Carlos Castilho e o editor e livreiro Abimael Silva com mil planos para novos livros. Noutro canto vi o poeta Volontê conversando com o escritor Aldo Lopes. Em outra sala, lá vai indo Clotilde Tavares tirando um fino em Mário Ivo. Não vi Marize Castro. Desconfio que ela continua em Dublin, dublando.

Fui puxar um papo com Moacy Cirne. Tácito Costa se aproximou e a conversa  foi fluindo, Moacy revelando seu fascínio pelas leituras que anda fazendo da Bíblia. Está num verdadeiro encantamento. Leitura cuidadosa, debulhada e degustada. Já fez mais de 500 anotações, primeiros desenhos de um livro que começou a escrever, sem prazo para terminar. Os comentários estão sendo anotados, lá se vão, se ouvi bem, mais de 200 páginas já escritas. O poeta na maior vibração nesse seu reencontro bíblico e fazendo jus à barba de profeta hebreu e acentuado sotaque seridoense.

Maio vai bem no andar das letras com a bênção de todos os anjos.

Velhas cartas

Volto mexer nos velhos papéis jogados nas gavetas desarrumadas. Encontro uma carta do poeta José Bezerra Gomes, dirigida a Aluízio Alves. É de 13 de janeiro de 1982, postada em Natal. Fico em dúvidas: já não publiquei a carta aqui? Bom, se publiquei (a memória escorrega) vou repetir a dose. Não é toda hora que se depara com uma carta de Zé Bezerra Gomes, o poeta e  escritor.

Vamos lá:

“Ao Senhor

Dr. Aluisio Alves

Tribuna do Norte – Suplemento Literário da

Av. Tavares de Lira, 101/105

Natal – RN -59.000

Prezado confrade Dr. Aluisio Alves

Saudações cordiais:

Retorno ao Suplemento Literário da Tribuna do Norte, com uma nota bibliográfica, de minha autoria, refeita, sobre “Angione Costa, Autodidata e Mestre”, encarecendo-lhe vosso beneplácito, para divulgação, na forma solicitada.

Fi-la, por sugestão de um amigo, Prof. da UFRN, em cujo meio universitário permanece, negligentemente. Ignorado tão ilustre nome da inteligência produtiva norte-rio-grandense: João Angione Costa, natalense de nascimento.

Antecipo-me agradecido pela publicação, solicitada, à vista da presente carta, firmando-me de V. Excia. confrade e admirador,

José Bezerra Gomes  - Autor”

Na lauda, datilografada, José Bezerra Gomes, além de assinar a carta, imprimiu o seu carimbo: “José Bezerra Gomes, Advogado. Rua dos Pajeús, 1730 – Alecrim. Natal – RN – CEP 59.000”.

Quem é João Angione Costa? No artigo de José Bezerra Gomes, ele surge como arqueólogo, sociólogo e indianista, natalense nascido na Rua dos Tocos “atual Princesa Isabel, numa casa, no final da rua, da qual avistava o mar”.  A Tribuna publicou o artigo? Não sei, não me lembro. O original está nos meus papéis espalhados. Qualquer domingo desses publicarei aqui.

Poesia

“Olhai olhando olhai/ a lua cheia/ a terra úmida grávida/ orvalhada // A chuva chovendo no mar/ O sol nascendo do mar // Olhai olhando olhai / O cio das andorinhas/ o andar das sacras procissões // Olhai olhando olhai/ o olhar da Virgem virgem Maria// entre flores/ aureolada/ por moças/ de meu país encantado // O voo do nambu/ o canto da seriema // O mugir mugido da vaca/ perscrutai vaqueiro perscrutai // O olho do vagalume/ o olho encantado/ do vagalume encantado //De meu  país/ de meu país encantado // O balir balido da ovelha/ o balir balido da ovelha // Perscrutai pastor perscrutai”. (De José Bezerra Gomes, no poema Ducado, em Antologia Poética, livro organizado por Luís Carlos Guimarães, com posfácio de Moacy Cirne, publicado pela Fundação José Augusto, 1975).

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