quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Jomar comenta o livro de Assis Câmara.


jPJomar Morais*
Jornalista jomar.morais@supercabo.com.br
Ao deliciar-me com a leitura da segunda edição de “Destino de Pássaros e Outros Destinos”, do poeta Francisco de Assis Câmara, fui provocado pela seção mais singela do livro, aquela em que o autor compõe versos inspirados em provérbios, os ditados populares repletos de sabedoria prática que no passado eram recurso pedagógico dos pais na transmissão de valores e crenças aos filhos. Se você, leitor, tem mais de 40 anos certamente aprendeu em casa que “é melhor andar só do que mal acompanhado” e, talvez, ainda repita entre amigos as velhas máximas da vovó: “De esmola grande o cego desconfia”, “Boa romaria faz quem em sua casa está em paz”…
Os provérbios têm quase a idade do homo sapiens. Muitos dos que chegaram a nós surgiram na antiguidade, forjados no anonimato para sintetizar o conhecimento que resulta da experiência humana em diferentes culturas. Até a Bíblia lhes concede um lugar de relevo em seu livro “Provérbios”. Em seu formato simples, curto e direto, os ditados populares nos levam ao ponto, estabelecendo juízos que refletem arquétipos universais, princípios éticos e também o imaginário coletivo de cada nação e cada cultura, com a sua carga de preconceitos e chauvinismo.
Provérbios expressam conhecimentos comuns e não necessariamente a verdade. Mas, embora isso pareça extemporâneo, penso que nos dias atuais eles poderiam cumprir uma função terapêutica e preventiva – inerente ao poder da palavra -, curando transtornos e obsessões que atazanam nossas vidas ricas de barulho e carentes de sentido. Reproduzidos por pais ou receitados por psicólogos e médicos, funcionariam como pílulas sem efeitos colaterais sobre os tecidos da alma que constituem o caráter e os sentimentos.
Aqui, algumas indicações:
“A palavra é de prata, o silêncio é de ouro”. Recomendado para os que padecem do mal da loquacidade, incapazes de ouvir o próximo e observarem a si mesmos.
“Águas passadas não movem moinhos”. Indicado para os saudosistas patológicos e os que se ataram a seus psicanalistas.
“Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos”. Perfeito para vanguardeiros que repetem a rotina dos próprios pais.
“Não há rosas sem espinhos”. Prescrito para os que se perderam na busca da felicidade vendida.
“De grão em grão a galinha enche o papo”. Receitado para os que desconhecem o valor do trabalho, sufocados na ansiedade por resultados.
“Quem compra o que não pode, vende o que não quer”. Exato para inscritos no Serasa, compradores compulsivos e os incapazes de planejar.
“São bambas as pernas do coxo, e o provérbio na boca dos insensatos” (Provérbios, 26:7). Ideal para gurus fabricados e muitos autores de autoajuda.
*Texto publicado na coluna do jornalista no NOVO JORNAL e em seu portal Planeta Jota

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