Indagações espaciais sobre a Casa Grande do Engenho Cunhaú
APRESENTADO: II Secitex no IFRN-Campus Parnamirim http://eventos.ifrn.edu.br/secitex2016/
APRESENTAÇÃO: goo.gl/ZnNcWq
“De Cunhaú, materialmente, resta pouco. O engenho foi desmontado e sobre seus alicerces construído o novo. Da casa-grande, de 45 metros, ficaram quinze...
Da capela avocadora de sacrifícios, mistérios e pompas sacras, vivem,
negras e esborcinadas, as paredes da fortaleza.” (CASCUDO, 2008 p. 114,
grifo nosso)
T. A. OLIVEIRA¹ e M. M. MAIA²
E-mail: thiagooliveirarn@gmail.com¹; márcio.maia@ifrn.edu.br²
O presente trabalho visa apresentar de uma forma sucinta um histórico sobre a atual Capela do Engenho Cunhaú, e uma hipótese do posicionamento da ermida (capela) da Retaliação no Cunhaú (termo atribuído pelo autor à chacina cometida como justificativa de vingança dos indígenas, ajudados pelos holandeses, contra os portugueses) edificada por Jerônimo de Albuquerque em 1604. O método de pesquisa utilizado foi a prospecção bibliográfica sobre arquitetura colonial e a História do Engenho Cunhaú aliada à contraposição de uma pintura de Frans Post de 1643, haja vista que muitos autores a confirmem como sendo o engenho, com uma fotografia tirada pelo autor em 01 de maio de 2015. Portanto a presente obra quer possibilitar uma nova concepção histórica de um dos espaços mais significativos socialmente, financeiramente e culturalmente do Rio Grande do Norte, em favor dos trezentos anos da História do Engenho Cunhaú, sumariamente ignorado em favor de um único episódio perpetuado em seu solo.
PALAVRAS-CHAVE: Capela do Engenho Cunhaú, e Prospecção bibliográfica.
Spatial questionings about Cunhaú's sugar cane mill house
ABSTRACT
This study aims to show a brief historic of the current sugar cane mill
chapel of Cunhaú, and a hypothesis of the chapel’s position built by
Jerônimo de Albuquerque in 1604 in the Retaliation in Cunhaú (term
assigned by the author that references to the Portuguese slaughter done
by the indigenous with the help of the Dutch). The method of research
was a bibliographic study about the colonial architecture and the
history of Cunhaú’s sugar cane mill, combined with the contraposition of
Frans Post painting of 1643 – considering that many authors confirm it
as being a painting of the sugar cane mill – with a picture made by the
author in May First 2015. Therefore this work wants to demonstrate a new
historical conception regarding one of the most socially, financially
and culturally remarkable places in Rio Grande do Norte, in sake of the
three hundred years of Cunhaú’s sugar cane mill history, intentionally
ignored in favor of a single episode perpetuated on its soil.KEY-WORDS: Chapel of Cunhaú, and Bibliographic study.
1. INTRODUÇÃO
A epígrafe do celebre historiador e antropólogo Câmara Cascudo, demonstra a visão e principalmente, a pouca relevância dada às ruínas do Engenho Cunhaú, mesmo com sua importância para com a História Potiguar. Em virtude dessa lacuna, o presente trabalho busca procurar, amparado por uma literatura específica sobre o tema estudado, explicar a relevância de tais ruínas para o estado do Rio Grande do Norte.
O presente trabalho visa apresentar de uma forma sucinta um histórico sobre a Capela do Engenho Cunhaú provavelmente construída em 1654, por Matias de Albuquerque Maranhão, e uma hipótese do posicionamento da ermida da Retaliação no Cunhaú edificada em 1604 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão “O Conquistador do Maranhão”. Portanto se pretende aqui amparado por uma prospecção bibliográfica sobre arquitetura colonial e a História do Engenho Cunhaú, aliada à análise de uma pintura em paisagem que muitos autores atribuem ao Engenho Cunhaú no período de 1643, evidenciar uma lacuna na Historia Potiguar e uma estória esquecida do Engenho Cunhaú.
A primeira Capela do Engenho Cunhaú foi provavelmente edificada em 1604 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão, de taipa de pilão, e em período ignorado foi desenhado após levantamentos reais de Jorge Macgrave, Gaspar Barléu e outros, sendo em 1643 pintado em estilo de paisagem pelo artista flamengo Frans Post para ser um mapa do famoso livro de Gaspar Barléu. O episódio mais marcante acontecido nessa capela foi a Retaliação no Cunhaú, ocorrida em 16 de julho de 1645, onde 70 fieis foram chacinados durante a missa do capelão André de Soveral por cerca de 500 índios Tapuais Janduís e Potiguares liderados momentaneamente por Jerereca em vingança aos seus, visto que os índios foram trucidados no início da colonização portuguesa. Os índios atuaram junto a 200 soldados holandeses desertores comandados pelo alemão Jacob Rabbi, cuja intenção era saquear as riquezas do Cunhaú, o centro econômico da Capitania. (JÁCOME BARRETO; 2016) Após a matança na igreja, flamengos e índios invadiram a casa contígua à capela (PEREIRA, 1999, p. 16, grifo nosso).
É sabido para os pesquisadores do Brasil Colonial, que boa parte das construções compreendida entre o início do século XV a XIX, eram tradicionalmente feitas de taipa de pilão, devido à escassez de matérias-primas mais elaboradas, esse fato foi mudado com a vinda da Família Real Portuguesa a colônia em 1808, que possibilitou a abertura dos portos a insumos estrangeiros. (ANDRADE; 2016)
A Capela da Retaliação no Cunhaú não fugiu à regra, pois é percebido na pintura de Frans Post, que ela possuiu linhas verticais, característica comum na construção de taipa de pilão, que consistia em comprimir a terra em formas de madeira, denominada de taipais, onde o barro era compactado horizontalmente e disposto em camadas de aproximadamente quinze centímetros de altura atingido a densidade ideal, criando assim uma estrutura resistente e durável. Quando a terra pilada atingia mais ou menos 2/3 da altura do taipal, recebia no sentido horizontal pequenos paus roliços envolvidos em folhas, geralmente de bananeiras, produzindo orifícios cilíndricos, cabodás, que permitem o entrelaçamento do taipal em nova posição, e depois era colocado o telhado de madeira e telhas de barro. (ECOFICIENTE; 2016) E é também percebido na pintura que a capela não tinha uma porta externa visível, possibilitando assim a existência de uma porta contígua ao lado esquerdo da primitiva Casa Grande ou num pátio interno não exposto na obra. Após a Retaliação, a capela ao que tudo indica ficou em ruínas, devido aos ataques lá ocorridos, depois desparecendo por completo.
A segunda Capela do Engenho Cunhaú, que é atual, foi provavelmente construída em 1647, por Matias de Albuquerque Maranhão defronte da Casa Grande do Cunhaú, devido aquela construída por seu pai, Jerônimo Maranhão, ter ruído. Os arredores dessa capela durante três séculos serviu como cemitério aristocrático da Casa de Cunhaú. No início de 1810, o viajante inglês Henry Koster, ao visitar o Engenho Cunhaú, nada relatou sobre ela. Em 1877, o cruzeiro de ferro e sino de ouro foram transferidos ao Engenho Outeiro pelos freis Guardioso e Herculano, na intenção de espantar um demônio. Em 1890 seu telhado foi vendido em Recife para cobrir uma estribilha no Outeiro, em 1896 foi quase totalmente destruída pelos filhos do Coronel Dendê Arco Verde na procura das suas botijas, sobrando só as paredes e a fronte destruído. (CASCUDO; 2008, SILVA; 2014) Atualmente essa capela se localiza no Município de Canguaretama:
De pedra e tijolo só havia no Cunhaú a capela famosíssima. Tem 18, 75 de comprimento por 7,36 de largura e 5,97 de altura. Na face posterior mede 9,15. As paredes vão de 60 a 75 centímetros de espessura. Há uma janela alta, a oeste, uma seteira na capela-mor, três portas, a principal ao sul, a da sacristia a oeste e uma a leste, defronte da primitiva casa-grande. Deve ter sido a capela o verdadeiro forte, o ponto de defesa murada e segura. O engenho está a cem metros. (CASCUDO 2008, p. 90, grifo nosso)O tombamento dela foi homologado no dia 16 de junho de 1964, no Vol. 1, Folha 60, Inscrição 368, pelo, extinto Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN:
Sobre a restauração fala Oliveira (2003, p. 41): foi organizado um convênio firmado entre o Ministério da Cultura, a Fundação Nacional Pró-Memória, a Fundação Roberto Marinho e o Governo do Estado do RN, em meados da década de 1980, para a restauração da Capela do Engenho Cunhaú. (Figura 1)
“[...] construída com tijolos cozidos, batentes e cornijas de pedra lavada, restaram as paredes laterais, a parede de fundo. As paredes laterais da capela-mor possuem seteiras. Na parede do retábulo resta o nicho em arco”. (IPHAN; 2016)
O presente trabalho tomou como método de pesquisa, a prospecção bibliográfica sobre arquitetura colonial e a História do Engenho Cunhaú aliada à contraposição de uma pintura de Frans Post de 1643, haja vista que muitos autores a confirmem como sendo o engenho citado, com uma fotografia tirada pelo autor em 01 de maio de 2015 num Smartphone Samsung S3.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As construções no Novo Mundo não foram idênticas as habitações da Europa, por causa das diferenças climáticas, geográficas e outras, assim as que foram edificadas não visavam a estética, mas sim a segurança, elas foram feitas com alicerces profundos, paredes grossas de taipa com óleo de baleio, piso de terra batida, poucas portas e janelas, outras feitas de pedra e cal, com teto de telhas que serviam de alpendres contra o sol e chuvas dos dois lados. Essas construções em sua maioria não passavam de 120 anos, por falta de manutenção. (ANDRADE; 2016) Com a chegada da Família Real Portuguesa a Colônia Brasileira em 1808, a estabilidade política e econômica vigorava, assim a arquitetura civil e religiosa teve uma mudança significativa, porque as matérias-primas mais sofisticadas já existiam em abundância, possibilitando assim mais luxo e conforto, agora se usava alvenaria de pedras e tijolos nas paredes, madeira recoberta com telhas cerâmicas nas coberturas; lajotas de barro e/ou assoalhos de madeira nos pisos e também um tipo de tijolo circular utilizado nas alpendres das capelas, casas-grandes e senzalas. Uma particularidade dessas construções era a capela que servia de anexo da Casa-Grande, em algumas havia um acesso privado para os familiares do Sr. do Engenho através de uma porta contigua à Casa Grande, que levaria a um espaço restrito a família senhorial, caso essa moradia fosse assobrado se dava por um corredor junto ao balcão superior presente no pé-direito duplo da capela, já os colonos acessavam por uma entrada diferente, um exemplo desse tipo de capela é a do Engenho Poço Comprido (Figura 2) em Vicência/PE. (ANDRADE; 2016, PACHECO; 2016 e BIVAR MARQUESE; 2016)
Figura 2: Engenho Poço Comprido. Fonte: http://www.viagensbrasil.blog.br/2014_06_01_archive.html. Acesso em: 12 jun. 2016 |
O Engenho Cunhaú (Figura 3), foi desenhado após levantamentos reais de Jorge Macgrave, Gaspar Barléu e outros em período ignorado, sendo que em 1643 através do pintor holandês Frans Post foi transformado em uma pintura de paisagem para ser um mapa (Figura 4) do livro de Gaspar Barléu publicado em 1647. (ANTIQUE MAPS; 2016)
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