Antoine de Saint-Exupéry em Natal
14/02/2005,
*
Luiz Gonzaga Cortez.
Deve-se à última edição do mensário literário O GALO ( junho/2000, Ano XI, n. 05), através de artigo traduzido pelo jornalista Nelson Patriota – “Saint-Exupéry, o mito levanta vôo” – as mais recentes pistas e fontes para se pesquisar sobre as andanças do famoso aviador e escritor francês pela América do Sul e África. O artigo revela que uma irmã dele, Simone (1898-1978), e a viúva, Consuelo, deixaram um livro inacabado e um manuscrito intitulado “Mémoires de la rose” ( “Memórias da rosa”), respectivamente, entre outras novas obras. São novos caminhos para se pesquisar. E mais: quem quiser se aprofundar nas pesquisas pode se dirigir a uma fundação de Paris que mantém o “Espace Saint-Exupéry”, telefone 0143225890, em Paris. Mais: a Internet tem dezenas se páginas sobre Exupéry.
Deve-se à última edição do mensário literário O GALO ( junho/2000, Ano XI, n. 05), através de artigo traduzido pelo jornalista Nelson Patriota – “Saint-Exupéry, o mito levanta vôo” – as mais recentes pistas e fontes para se pesquisar sobre as andanças do famoso aviador e escritor francês pela América do Sul e África. O artigo revela que uma irmã dele, Simone (1898-1978), e a viúva, Consuelo, deixaram um livro inacabado e um manuscrito intitulado “Mémoires de la rose” ( “Memórias da rosa”), respectivamente, entre outras novas obras. São novos caminhos para se pesquisar. E mais: quem quiser se aprofundar nas pesquisas pode se dirigir a uma fundação de Paris que mantém o “Espace Saint-Exupéry”, telefone 0143225890, em Paris. Mais: a Internet tem dezenas se páginas sobre Exupéry.
Apesar
de não ter se encontrado documentos da empresa Latécoère, da Air France e de
órgãos aeronáuticos brasileiros sobre a presença do aviador Antoine de
Saint-Exupéry no Brasil, não há dúvida que ele esteve em Natal e em outras
cidades que serviram de bases de apoios e/ou escritório da empresa Aeroposta
Argentina, uma subsidiária da Laté, antecessora da Air France. Pery Lamartine
de Faria ( Epopéia nos Ares, 1995,p.65) e Nilo Pereira (este é autor do artigo
“Conheci Saint-Exupéry em Natal”, Tribuna do Norte, p.3, Caderno de Domingo,
14.04.1985) já publicaram artigos com depoimentos de testemunhas oculares da
presença de Exupéry em Natal. Segundo Pery, o que dificulta as pesquisa é o
fato de que na década de 20,os pilotos franceses e brasileiros não relatavam
seus vôos. “O campo de Parnamirim, que pertencia à Latécoère, não deixou nenhum
documentos sobre os pousos das aeronaves naquele local”, disse o escritor Pery.
Não
temos provas documentais que Exupéry veio de avião ou de navio para Natal, mas
veio. O resto é papo furado, inclusive essa versão de que ele passou pelo
Brasil num navio, em direção à Argentina. O que pasma é que nunca um
pesquisador do Rio Grande do Norte pesquisou no Museu da Air France, em Paris,
ou em outras instituições francesas. Só andaram pesquisando em livros e jornais
da província dos Xarias e Canguleiros. Mas, nem tudo está perdido, pois, por
telefone,uma pesquisadora brasileira, residente em Paris, me disse que está
pesquisando o assunto.
Se
Jacques Maigne, autor de brilhante reportagem publicada na revista “Air France
Magazine”, número 16, de agosto de 1998, diz que Exupéry foi um dos comandantes
dos aviões das primeiros linhas aéreas da América do Sul ( o pioneiro foi Paul
Vachet e Jean Mermoz, o recordista na travessia do Oceano Atlântico, no vôo
Dacar-Natal, em 12 de maio de 1930, no Laté 28), há indícios de que o autor de
Vôo Noturno esteve por aqui, já que exerceu o cargo de chefe da Aeropostale(
subsidiária da Laté) em Buenos Aires, responsável pelas rotas da América do Sul
da Latécoère. E Natal, estava incluída na área supervisionada por Antoine de
Saint Exupéry. O jornalista Franklin Jorge conversou muito com Nati Cortez,
pessoalmente, na rua Felipe Camarão, nos anos oitenta, sobre a presença dos
pilotos franceses em Natal nos anos 20/30.
Um
colunista disse que eu agora estava metido na história do RN e que a minha mãe
não deixou nada registrado sobre Exupéry em Natal. Ando metido na história
desta província há muitos anos, mas somente publiquei um livro sobre “Pequena
História do Integralismo do RN” (Fundação José Augusto-Clima, Natal,1986). E
graças a Pery, na semana passada, encontrei o original do depoimento manuscrito
deixado por Maria Natividade Cortez Gomes, minha mãe, cuja cópia está comigo.
A transcrição literal é literal, sem correções: “Antoine St. Exupery em Natal.
A transcrição literal é literal, sem correções: “Antoine St. Exupery em Natal.
A
companhia de aviação francesa, a Latecoere, chegou aqui em Natal em 1919. Em
fins de 1927, eu e mamãe, ( minha avó e mãe de criação, Josefa Aguiar) voltamos
do Rio de Janeiro, onde passamos uma temporada. Mamãe teve então a feliz idéia
de montar um bar e restaurante. A casa era grande, (duas casas conjugadas)
prestando-se para isto. Ficava situada na rua Frei Miguelinho, bairro da
Ribeira. O restaurante começou então a ser frequentado não só pelos pilotos da
Laté que eram brancos, como pela tripulação dos “avisos”, que eram pretos
vindos de Dakar. Os aviões eram anfíbios, baixavam no rio Potengi. Os negros
eram na sua grande maioria das colônias portuguesas da África. No movimento do
bar e restaurante, que era intenso, principiei a falar com os franceses, já que
eu tinha uns rudimentos do francez que aprendi com o dr. Adauto Câmara, na
Escola Vigário Bartolomeu, situada na Cidade Alta.
Atendendo
a uns e a outros, apesar de ser muito nova ( tinha treze anos nesse tempo)
notei que, quando chegava um certo piloto por nome Antoine, os outros
aproximavam-se, fazendo uma roda em torno dele. Eu, no auge da curiosidade,
também ia apreciar a conversa daquele piloto da Laté que denotava possuir uma
vasta cultura. Do que ele falava, não me recordo, mas ficou gravada na minha
lembrança sua figura brilhante.
Conhecí
outros pilotos, inclusive Raimonde e Sidifal. Tive até de receber cartões
postais vindos de Dakar, onde falavam muito no nome de Mademoiselle Nati. Ainda
hoje conservo estes cartões como recordação da passagem da Latecoere em Natal.
Depois de casada, lendo “O Pequeno Príncipe” e “Correio do Sul”, tive a
intuição que aquele Antoine era, nada mais nada menos, do que St. Exupery. Até
que um dia, vendo uma foto de Antoine num jornal do Rio, verifiquei que era ele
mesmo. Natal, 12/6/1984. Nati Cortez”.
Eis
aí o depoimento deixado por dona Nati, sem correções. Dos cartões que ela se
refere, encontrei dois, mas oferecido pelo piloto Edmond, do “Revigny”, de um
“aviso” (embarcação de apoio aos vôos sobre o Atlântico). Também achei cartões
postais com as fotos dos ases da aviação da época, como Newton Braga, Sarmento
de Beires, Ribeiro de Barros ( o do Jahú, em 1927) e Vasco Cinquine, que eram
vendidos pelo Photo “Elite”, de Natal. Na verdade, há muita conversa fiada e
fértil imaginação entre alguns que se arvoram a falar desse assunto.
Luiz
Gonzaga Cortez é jornalista
e sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN desde 1983.
e sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN desde 1983.
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