sábado, 24 de novembro de 2012

Luiz Gonzaga e outras poesias.


Zé Praxédi
por Leide Câmara
 
Foto capa livro/divulgação
Zépraxédi (O Poeta Vaqueiro) ao escrever “Luiz Gonzaga e outras poesias“ jamais pensou que entraria para história como autor da primeira biografia em versos do Rei do Baião. E disse bonito, bem ao seu estilo de poeta, que tão bem conhecia o Nordeste, Luiz Lua Gonzaga, o sertão, seu povo e sua gente. Com prefácio de Luiz da Câmara Cascudo e com o apoio de outro potiguar, João Café Filho (Vice-Presidente da República), a obra foi publicada pela Continental Artes Gráficas, de São Paulo/SP, em 1952.
 
Praxédi parecia adivinhar que  o ícone que Luiz Gonzaga mais tarde se tornaria, pois em sua última estrofe do  poema biografia finaliza assim “... Mas o TITO, que me abrange, minha arma, meu coração, foi dado pelo povo da praça e do meu sertão. É a voz do meu Brazí: GONZAGA O REI DO BAIÃO”. E foi mesmo consagrado pelo povo como a maior expressão da música nordestina. Luiz criou um estilo ao se caracterizar com a indumentária do nordestino e cangaceiro em suas apresentações. Transformou costumes com o xote e o baião e fez mudanças para estória da música brasileira divulgando o Nordeste e nacionalizando o forró. Imortalizou a trilogia do baião - Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Humberto Teixeira, que até hoje é seguido por legiões de fãs que cultuam sua memória e sua obra, que é um patrimônio imensurável.
 
 
O Sebo Vermelho, leia-se Abimael Silva, para comemorar o centenário de nascimento do Rei do Baião (13 de dezembro de 1912 – 13 de dezembro de 2012) publicou uma edição Fac-similar do livro de Zépraxédi (O Poeta Vaqueiro) “Luiz Gonzaga e outras poesias”, uma obra rara que tem sessenta anos. O livro chegará a mãos de apreciadores tanto de Luiz Gonzaga quanto de Zé Praxédi.
 
Uma memória  histórica
 
José Praxedes Barreto nasceu na Fazenda Espinheiro, Angicos (RN), em 15 de novembro de 1916 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de março de 1982. Compositor, intérprete, escritor, poeta, radialista, cordelista e jornalista (filiado a Associação Brasileira de Impressa - ABI/RJ em 1955). Era o primeiro dos seis filhos do casal Francisco Praxédes Barreto (nasceu em Martins/RN e faleceu em Currais Novos/RN) e Maria Segunda Praxédes Barreto (nasceu em Martins/RN em dezembro de 1900 e faleceu em Natal/RN em 23 de junho de 1975).
 
José Praxédes casou em 1941 com Hilda Pinheiro Barreto, com quem teve um único filho, José Praxédes Barreto Júnior (Bahia/BA em 09 de novembro de 1947) que reside no Rio de Janeiro. Zé Praxedes foi morar no Rio de Janeiro em 1950 e no ano seguinte, com o patrocínio de João Café Filho, ele e Luiz Gonzaga fizeram uma consagradora apresentação no Teatro Copacabana.
 
Foi contratado pela Rádio Nacional, onde apresentou por muitos anos o Programa “Sertão é assim”, todos os dias às 6 horas da manhã, era um momento em que os nordestinos ausentes conseguiam matar a saudade de sua gente. O programa dava grande audiência e isso foi muito importante para conseguir patrocinadores e mantê-lo no ar. [com post na página do Sebo Vermelho]


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Postado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo no AssessoRN.com em 11/24/2012 09:30:00 AM

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Carta-histórico da UBE/RN.


                               CARTA  NATALINA  AOS ESCRITORES DA UBE/RN (*)
                                             “quem faz aquilo que pode, faz o que deve” (Miguel Torga)

                                                                     Prezado (a) Confrade ou Confreira:

                                                           É com imensa alegria que me dirijo a Vossa Senhoria para avivar alguns fatos relacionados à história de representação  do órgão de classe dos escritores – UBE – que no dia 14 de agosto deste ano completou 53 anos de vida e ao final agradecer-lhe pela confiança em mim depositada.
                                                        O escritor Francisco Martins, pesquisando na biblioteca da Academia Norte- Rio-Grandense de Letras do RN, descobriu uma pasta com importantes documentos: ofícios, recortes de jornal, estatuto e um extrato de ata confirmando a data de 14 de agosto de 1959, às 20h50, no Instituto Histórico e Geográfico do RN  como a data oficial de fundação da União Brasileira de Escritores, secção do Rio grande do Norte. Portanto, há cinqüenta e três anos e não conforme livro de atas (segunda fase) que indicava 16 de novembro de 1984  no Salão dos Grandes Atos da Fundação José Augusto com a presença de Fagundes de Menezes. Assim, a UBE/RN  tem três fases:  1ª fase (14.08.1959), 2ª fase (16.11.1984) e 3ª fase (23.03.2006).
                                                     1ª fase. A idéia partiu do jornalista, escritor e magistrado Edgar Barbosa durante a Semana de Estudos Euclidianos, promovida em Natal/RN, com o apoio de diversas instituições. Na histórica reunião de 14 de agosto  de 1959, às 20h50, no IHGRN com a presença do escritor Umberto Peregrino,  Aldo Fernandes, Edgar Barbosa,  Alvamar Furtado, Grimaldi Ribeiro, Dióscoro Vale, Raimundo Nonato e Manoel  Rodrigues. A diretoria aclamada para a organização da UBE – Secção do  Rio Grande do Norte – ficou assim constituída: Raimundo Nonato – Presidente; Manoel Rodrigues de Melo, Vice-Presidente e Afonso Laurentino - Secretário . Essa Diretoria Provisória preparou o Estatuto e organizou o processo eleitoral em  14.11.1959, três meses depois, sendo eleitos os seguintes escritores para o biênio 1960/1961:
                                       (1ª Diretoria)

 Raimundo  Nonato da Silva, Presidente;  Paulo Viveiros, 1º Vice-Presidente; Manoel Rodrigues de Melo, 2º Vice-Presidente; José Saturnino de Paiva, 3º Vice-PresidenteAfonso Laurentino Ramos, Secretário  Geral; Berilo Wanderley, 1º Secretário; Leonardo Bezerra, 2º Secretário; Antídio de  Azevedo, 1º Tesoureiro; Jaime dos G. Wanderley, 2º Tesoureiro.
Conselho Fiscal:  Câmara Cascudo,Edgar Barbosa , Alvamar Furtado, Esmeraldo Siqueira e Américo de Oliveira Costa.
Vogais: Antônio Soares Filho, Vingt-un-Rosado,  Jurandir Barroso , Zila Mamede e Veríssimo de Melo.
               Através de um Comunicado endereçado ao Presidente da UBE nacional , escritor Peregrino  Júnior, datado de 19.11.1959, o presidente da UBE/RN, escritor Raimundo Nonato da Silva  comunica da eleição da 1ª diretoria da entidade, bem como solicita a filiação da UBE/RN à UBE, com sede no Rio de Janeiro.
                       Em 21.01.1960 foi fundada uma sub-seção da UBE/RN em Mossoró/RN: Jaime Hipólito Dantas, João Batista Rodrigues, Vingt-un Rosado e Manoel  Leonardo Nogueira.
                      Outra curiosidade: o Estatuto tinha 3 tipos de sócios:1. Sócios Efetivos (fundadores e efetivos). 2. Sócios Honorários e 3.  Sócios Beneméritos.

                                      2º fase. Inicia-se com a vinda de Fagundes de Menezes em 16.11.1984,   no Salão dos Grandes Atos da Fundação José Augusto, na presença de  18 intelectuais. Curioso notar que a escritora Zila Mamede  participou das duas fases, sendo inclusive  Vogal da 1ª Diretoria da UBE (1960/1961) e sócia fundadora na segunda fase. Outra curiosidade: Dom Nivaldo Monte também participou das duas fases.

                                       3ª fase. Inicia-se em 23 de março de 2006 com uma reunião de reorganização, na sede da Academia Norte -rio-grandense de Letras, contando com a presença de sete escritores e mais um na reunião seguinte; e vem até os dias atuais: Anna Maria Cascudo Barreto, Eduardo Antonio Gosson, Lívio Oliveira, Pedro Vicente da  Costa Sobrinho, Nelson Patriota,  Manoel  Onofre de Souza Júnior,  Racine Santos e Carlos Roberto de Miranda Gomes. Lívio ficou exatamente um  ano e nove meses até que, por motivos particulares, renunciou ao cargo de presidente. Nesse pequeno  tempo fez coisas relevantes, destacando-se o encaminhamento aos deputados José Dias e Fernando Mineiro de uma minuta da Lei do Livro (Lei nº 9.105/2008 - Henrique Castriciano) e que o governo passado e o atual  não implementaram. Em seguida, a direção passou para mim que, com valorosos companheiros, venho    navegando em mar revolto, sem ter medo de chegar.
                                                      Nesses cinco anos (2008/2009 - Diretoria Provisória; 2010/2011- Diretoria Eleita); 2012-2013- Diretoria Releita, reconstruí tijolo por tijolo a UBE/RN: 1. Legalização completa (registro cartorial, CNPJ, conta bancária, utilidade pública Municipal, Estadual e, em breve, Federal); 2. Realização do I, II, III,  IV e V Encontro Potiguar de Escritores;  3. Participação na elaboração da lei nº 9.169/2009 (lei das leituras literárias nas escolas públicas; 4. Campanha de Valorização da Literatura Potiguar (2010) em parceria com o Tribunal de Justiça do RN; 5. Criação do Prêmio Literário Escritor Eulício Faria de Lacerda 2011 (1ª edição) que premiou um jovem escritor Paulo Caldas Neto (1º) e  um escritor veterano Racine Santos(2º); 6. Criação do Plano Editorial 2012 que  previu a publicação de 12 obras durante o ano e a edição completa da obra do escritor Eulício  Faria de Lacerda, inclusive acrescentando o romance  A Terceira Manhã  que se encontrava perdido (dos 12 previstos publicamos 09) . 7. Realização da transferência do domínio do jornal O Galo da FJA para a UBE (aprovado na lei Djalma Maranhão está em fase de captação de recursos);  8. Criação do selo editorial Nave da Palavra; 9. criação de um site: www.ubern.org.br;  10. criação de um blog: blogubern.blogspot.com.br

                                                           Pode parecer pouco...  Mais não é: sobretudo num país onde a Cultura é um produto de elite e se luta por coisas básicas como a implantação do Plano Nacional de Cultura e por uma Proposta de Emenda Constitucional – PEC 150 – desde 2003.  O Fundo de Cultura, embutido nesta emenda,  define os recursos nas três esferas de governo (federal,2%; estadual,1,5% e municipal,1%). Para agilizar a sua tramitação foi criada a Frente Parlamentar da Cultura, que tem na presidência a deputada federal Fátima Bezerra.
                                            Chegar até aqui  para mim não foi fácil: perdi um filho tragicamente em maio deste ano,  agravamento da minha saúde (Mal de Parkinson), falta freqüente de medicamentos na UNICAT, dificuldades financeiras geradas por medicamentos caríssimos (os três medicamentos que tomo custam R$  1.400,00 ). Apesar das pedras no caminho, julgo um ano vitorioso: a UBE cresceu (130 sócios), a UBE publicou 9 livros dos 12 projetados, realizei o V Encontro Potiguar de Escritores – V EPE (o melhor dos cinco em organização e freqüência) e agora na reta final de novembro haverá três lançamentos de livros: 27(Patronos Escolares), 28 (Memórias de uma Tríplice Jornada) e 29 (Cotidianas).
                          No dia 06 de Dezembro ainda realizarei um Ciclo de Estudos Bartolomeu Correia de Melo seguido de dois  lançamentos: 01.A Onça Braba e o Cachorro Velho - livro infantil de Bartolomeu ; e 2. Louvor de Bartolomeu Correia de Melo (fortuna crítica) organizado pelos escritores Nelson Patriota e Manoel Marques Filho.
                        Por último,  agradeço o apoio dos meus pares da Diretoria. Como ninguém é de ferro, no dia 13, às 18horas, no restaurante Mangai, farei a  CONFRATERNIZAÇAO NATALINA da UBE no sistema cada um paga o seu. Espero contar com o confrade e a confreira, para juntos, celebrarmos a vida! Desde já desejo UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO!
Um grande abraço do  Eduardo Gosson
(*) Texto republicado por conter incorreções

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Vovó Nati 

Poema de Paulo Alfredo Simonetti Gomes, filho do
 1º filho de Maria Natividade Cortez Gomes( 1914-1989), Cleando Cortez Gomes (1931-2008).

Ainda hoje, visitei a velha casa,
Da qual minha avó era senhora.
Ainda hoje...
Vem em mim um pensamento...
E do peito, um verdadeiro grito,
Sem choro e ainda mais violento,
Lembrar a figura forte,
Quase infinita,
Da minha vó no rumor do vento.

Qual o velho cajueiro,
Fostes árvore, galho e ninho.
Um diverso querer,
Um não desistir de tentar,
A fazer de certo, os tortos caminhos.

Ter tanto filhos,
Tantos desejos idos...
Diversos filhos,
Poesia pura.
Encontrar a força de seguir sozinha,
Ave que se aninha,
No tempo de viver, madura.

Em letras se fez criança.
Em si, infância perdida.
Esposa, mãe, mulher,
Escritora, avó e vida.
Envelheceu como forte árvore,
Frondosos galhos abrigando aves,
Vida e concerto de velhas cantigas.

Ainda hoje eu visitei...
Me lembrei...

Vendam esta casa vinda de outras eras,
Fantasma e lembranças,
Avó e recordações em purpurina.
Da sala de visita a sala de jantar,
Um piano toca até o fim dos tempos.
No quarto,
Uma mãe parindo sempre uma criança.
Lágrimas luminosas insistem em jorrar, onde não posso vê-las.
Dentro de mim,
Em um jardim de pedras.

Olhem esta casa...
Da qual minha já foi senhora.
Já foi grande
E agora se encontra em ruínas.
Um dia consolou os que padecem.
Hoje, encontrou uma outra sina.
Fortaleza, 28 de outubro de 2012.
Nati Cortez e as netas Aleika e Emanuele, no jardim de sua casa na rua Felipe Camarão, 453, Cidade Alta, Natal/RN.

QUARTA-FEIRA, 7 DE NOVEMBRO DE 2012




INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE 
TEM NOVA DIRETORIA E CONSELHO FISCAL


Ontem, em reunião de Assembleia Geral Ordinária na sua tradicional sede da Rua da Conceição, 622 - Cidade Alta, presidida pelo Escritor Jurandyr Navarro da Costa, o IHGRN, por aclamação, elegeu a sua nova Diretoria e Conselho Fiscal para o triênio 2013-2915, assim compostos:


DIRETORIA:
1.Presidente: VALÉRIO ALFREDO MESQUITA; 
2.Vice-Presidente: ORMUZ BARBALHO SIMONETTI; 
3.Secretário-Geral: CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES; 4.Secretário-Adjunto: ODÚLIO BOTELHO MEDEIROS; 
5.Diretor Financeiro: GEORGE ANTÔNIO DE OLIVEIRA VERAS; 6.Diretor Financeiro Adjunto: EDUARDO GOSSON; 
7.Orador: JOSÉ ADALBERTO TARGINO ARAÚJO; 
8.Diretor da Biblioteca, Arquivo e Museu: EDGAR DANTAS RAMALHO DANTAS; 
CONSELHO FISCAL: 
1.EIDER FURTADO DE MENDONÇA E MENEZES, Membro titular; 2.PAULO PEREIRA DOS SANTOS, Membro titular; 
3.TOMISLAV R. FEMENICK, Membro titular; 
4.LÚCIA HELENA PEREIRA, Membro suplente.

A sessão cumpriu precisamente a Convocação publicada no Diário Oficial do Estado, edição do dia 31 de outubro do ano corrente, da Presidência, sob o fundamento das disposições combinadas dos artigos 11 e 15, “b” do Estatuto e ocorreu em total harmonia e confraternização. a posse ocorrerá no dia 29 de março de 2013, data de aniversário da Casa da Memória, em sessão solene na sede da Entidade, conforme oportunamente será divulgado, com a respectiva transmissão do cargo para o novo Presidente Valério Alfredo Mesquita.
Em breves palavras o Presidente Jurandyr Navarro da Costa agradeceu a presença de todos. 
Resposta rápida

sexta-feira, 2 de novembro de 2012


EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO – 14
Por Eduardo Gosson

Hoje, no Calendário, comemora-se o Dia de Finados: 2 de Novembro. O Poder Público e a iniciativa privada preparam os Cemitérios para receberem as pessoas que vão referenciar os seus mortos. Os rituais mudam conforme as crenças.
Preparo-me e vou visitar os meus mortos já que “a morte existe, os mortos não” como bem definiu o  Mestre Cascudo. No Cemitério do Alecrim estão os restos mortais de: avô, avó, pai, tios; em Emaús, mãe e tios; em Nova Descoberta, ao pé das dunas, em silêncio profundo, sem direito ao sim e ao não, jaz o meu filho Fausto Gosson, arrebatado desta vida em 26 de maio deste ano de 2012.
Filho amado, tua mãe, filhas, eu e teu irmão gêmeo Thiago não sabemos medir a extensão desta dor. Por isso, levamos flores para enfeitar a tua nova morada. Em cada flor um simbolismo: as amarelas celebram a tua amizade; as brancas, o teu coração de paz; as azuis a tua solidão e as vermelhas a nosso amor. Descanse em paz meu menino, já que neste mundo a vida   foi-te  dura.Que a paz do Senhor esteja contigo por todo o sempre!
Eu não sabia que doía tanto!
(*) Poeta, preside a União Brasileira de Escritores – UBE/RN.

Em memória de Nati Cortez.


POR O SANTO OFÍCIO | 30 OUTUBRO, 2012 - EM MEMÓRIA DE NATI CORTEZ*

Flagrante de solenidade na Academia de Letras; ao microfone, Franklin Jorge
Essas coisas vos escrevemos, para que nossa alegria seja completa.
João, 1-4.
Senhoras e Senhores:
Animado pelo impulso da oportunidade, eis-me aqui, honrado com o convite feito pelo jornalista Luiz Gonzaga Cortez Gomes para prestar depoimento nessa celebração em memória de Maria Natividade Cortez Gomes, escritora natalense, vocacionalmente dramaturga e trovadora, uma dessas inteligências cheias de vida.
Tenho-a ainda muito viva na lembrança, sempre entusiasmada e cheia de fé, urdindo suas peças e escritos líricos. Perita na arte do bate-papo, às vezes se referia a alguém que tinha boa palestra, como um causeur. Amava a França e, como muitos franceses, tinha o espírito em alta conta. Era uma mulher muito prática que educou e formou seus filhos. E agora, já avó, quando a conheci, entregava-se aos deleites do pensamento.
Ainda me lembro perfeitamente de como a conheci, em fins dos anos 60 ou em princípios dos 70, antecipadamente, por informação de uma nossa amiga em comum, a escritora Maria Eugênia Maceira Montenegro, mineira de Lavras que se tornara norte-rio-grandense do Assu, uma constante e fiel divulgadora do teatro e das peças que escreveu – e em grande parte continuam inéditas – da nossa homenageada desta noite solene.
Voltava Dona Gena (Maria Eugênia) de Natal para o Assu, onde viveu por mais de 60 anos, e se mostrava encantada com a leitura de “A guerra dos Planetas”, peça então recém-escrita por Natí, que inaugurava-se assim como autora dum “teatro espacial” composto por outras peças do gênero, como “Diálogo das Estrelas”; enfim, como uma dramaturga que bebia e se nutria de sua paixão pelos estudos de Astronomia e Ufologia, temas recorrentes naqueles anos ainda próximos da conquista da Lua pelos americanos, em 1969.
Dona Gena não escondia seu entusiasmo – esse entusiasmo que para Baudelaire seria prova de talento – e, enquanto jantávamos em torno daquela comprida mesa patriarcal, fazia-me eu também, então um jovem melancólico e idealista, participante daquela euforia que costuma se manifestar em gente de categoria, e, naquele instante mágico, ao ouvir aquela bela senhora que reconhecia como amiga e mestra – exaltando o talento da amiga que viria a ser minha amiga também-, pensava gravemente nos antigos; esses sábios que consideravam os amigos indispensáveis à vida humana.
Sentia-me contaminado, sobretudo, por esse júbilo misterioso que produz o talento; o talento que Dona Gena exaltava em Natí Cortez, dotada, como poucos, para o teatro e –, virtude não menos preciosa –, abençoada com uma prolífica maternidade. Foi mãe de 24 filhos.
Assim, voltando eu para Natal, como o feliz portador das notícias de Maria Eugênia, que ficara no Assu, fui visitá-la à Rua Felipe Camarão 453, Cidade Alta, bairro em torno do qual surgiu nossa bela cidade natal. Um casarão recuado com alpendres, numa reminiscência sertaneja, para mim, empática e afetiva, pois lembrei-me imediatamente de minha infância no Estevam.
Logo, ao ver-me, surpreendendo-se com minha extrema juventude e fervor pela vida da inteligência, fez-se também minha amiga. De minha parte, encantou-me sua verve poética e a atenção que dispensava àquele jovem que fui, todo imbuído de literatura e utopias.
Lembro-me de Dona Nati em sua sala, onde havia um piano encostado na parede, como uma professora ou uma atriz em seus domínios, dramaticamente vivenciando seus relatos – os relatos de uma mulher que fora escolhida pelo teatro. Deliciou-me seu espírito, sua memória quase infinita, o enlevo com que evocava a crônica secreta de Natal e seu talento histriônico, essa verve com que insuflava vida em personagens que em seu tempo de menina viu e conheceu em trânsito pelas ruas de Natal; uma pessoa, repito, dotada daquela vontade de comunicação ilimitada que se traduz em talento.
Confesso publicamente minha dívida intelectual com essas duas mulheres às quais, aqui, tenho me referido: Natí Cortez e Maria Eugenia, ambas amigas de muitos anos, e eu – aquele jovem que estudava e sabia ouvir os mais velhos com atenção e proveito -, amigo delas.
Tínhamos em comum, Dona Natí e eu, a coincidência de termos nascido no mesmo dia 8 de Setembro, consagrado à Natividade de Nossa Senhora, uma data sublime para os católicos. Acrescente-se a esse simbolismo, no meu caso em particular, ter nascido no Ceará Mirim, aquele antigo burgo cuja paróquia é consagrada a Nossa Senhora da Conceição…
Natí Cortez abriu-me as portas de uma Natal pretérita e cheia de vida e acontecências que muito me encantaram e aguçaram em mim a curiosidade acerca de uma história que subjaz no imaginário coletivo da cidade. Por ela, soube histórias velhíssimas, curiosas e pitorescas, remanescentes de uma crônica que jazia esquecida nos desvãos e escaninhos de sua memória hospitaleira.
Quisera puder estender-me um pouco mais na evocação dessa escritora que se tornou testemunha generosa de seu tempo que se conta em oito décadas. Quero, porém, poupar-me do desgosto de, involuntariamente, provocar o sono em tão distintos pacientes. Concluo, pois, estas palavras citando uns versos de autoria de Ana Maria Cortez, uma das filhas de nossa homenageada, há muitos anos uma cidadã francesa:
“Através da vida de nossos mortos, vemos/ os trajetos e a morte inevitável. Estando em vida/ e sendo mortal, um ser procura estar em vida e nunca ser mortal” – In “A Poesia é uma História para Contar” (Editora Quarteto,Salvador, 2010).
MUITO OBRIGADO.

* Palavras lidas pelo autor [Franklin Jorge] na noite de 28 de Outubro na Academia Norte-rio-grandense de Letras, em Natal